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VELHO E O IDOSO
(Conto de Ary Franco)
Dois antigos amigos encontram-se, casualmente, anos
depois de um longo afastamento por razões alheias às suas vontades, levados que
foram por caminhos diferentes, em busca de um sucesso profissional e outras
aspirações não menos plausíveis.
O
IDOSO estava com 85 anos de idade e o VELHO um lustro mais novo, com 80 anos de
sobrevivência, digamos assim!
O
encontro ocorreu na fila do caixa de uma farmácia. O IDOSO tinha comprado um
complexo vitamínico para sua complementação alimentar. O VELHO comprara uma
série de remédios preventivos para satisfazer sua incurável
hipocondria.
Sentaram-se no banco de uma praça próxima e começaram a
falar sobre amenidades das saudosas reminiscências dos tempos de
outrora.
O
VELHO usava um chapéu de abas mais largas que as normais, para resguardar-se do
sereno da noite e queixava-se da friagem que sentia e lamentava não estar usando
um agasalho mais espesso. Não poderia demorar-se por muito tempo por causa do
orvalho...
O
IDOSO deleitava-se com a suavidade da brisa que a noite lhe soprava e
contemplava o céu estrelado que emoldurava uma linda lua cheia, prateando o
chafariz que jorrava contínuos e alegóricos esguichos
d’água.
O
VELHO descobriu uma pequena e acanhada nuvem acomodada naquele cantinho
celestial e temia que uma tempestade estivesse próxima a se desencadear. Ele,
inexplicavelmente, carregava um guarda-chuva.
O
IDOSO comentou sobre as roseiras que enfeitavam e perfumavam o jardim da praça.
Eram rubras, amarelas, brancas, róseas... um florido arco-íris pintado em
aquarela pelas mãos de Deus.
O
VELHO lamentou que os galhos eram cheios de espinhos que arranhariam aquele que
das roseiras se aproximasse. Preferia manter-se distante e não podia sentir
qualquer olor por estar constantemente resfriado, por uma crônica rinite
alérgica que o acometera anos atrás. Sempre levava consigo um preventivo par de
lenços.
O
IDOSO convidou o VELHO a dar umas voltas pelas cercanias para andar um pouco e
manter a forma física em dia. O VELHO disse que não se sentia disposto e
preferia manter-se sentado, alegando que se andar fizesse bem, todos os
carteiros só morreriam depois dos cem anos. O IDOSO desistiu de explicar-lhe que
os carteiros carregavam malotes pesados com correspondências e encomendas
postais, subiam ladeiras sob sol ou chuva, usavam roupas inadequadas ao clima
que fizesse, qualquer que fosse ele, quente ou frio. Isso não era saudável e em
nada contribuía para suas longevidades.
O
VELHO disse que passava a maior parte dos dias de sua aposentadoria, aboletado
em uma cadeira de balanço assistindo televisão, beliscando variados tipos de
petiscos, tomando cafezinhos e pitando seus cigarros. Pouco comia às refeições,
talvez por isso sentia-se constantemente cansado.
O
IDOSO pertencia a um clube social em que fazia hidroterapia, frequentava uma
escola de danças todas as tardes, exceto às segundas e quartas-feiras quando
tinha aulas de violão. Adorava a vida, ouvir boas músicas, encantava-se com o
sorriso de uma criança, as carícias de uma mulher, a chilreada dos pássaros, o
verde das matas, os animais, o sol, a chuva, a primavera, o verão, o outono, o
inverno e todas as outras benesses e criações de
Deus!
O
VELHO não ligava muito pra “essas bobagens”, pois tudo estava lá por obra do
acaso. Não tinha tempo de admirar estes “simples detalhes” que iam e vinham sem
influenciar em nada no seu modo de viver e ver as coisas. Apertou-me a mão sem
muito vigor e despediu-se dizendo que já era tarde e que tinha que retornar à
sua casa, pois estava na hora de tomar seus remédios, antes de
deitar-se.
Mostrei-lhe o bebedouro ali perto, caso quisesse tomar
algum comprimido que comprara na farmácia e, assim, poderíamos permanecer mais
tempo o nosso “papo”. Disse-me que já se acostumara a engolir os comprimidos a
seco, pois nunca sentia sede e pouca água bebia.
Desejei-lhe felicidades e aconselhei-o que parasse de
olhar tanto para o chão, pois lá no alto é que estavam as coisas boas para serem
apreciadas, inclusive nosso Divino Deus para conduzir nossos passos e iluminar
nosso caminho com sua Divina Luz.
Fez um muxoxo de descrença, tirou um pigarro da garganta
e afastou-se meio curvado, alquebrado...
Pobre VELHO de 80 anos, jamais conseguirás ser um IDOSO
de 85 como eu. De bem com a vida, de bem com o próximo, sufocando eventuais
prantos, contornando ou arrostando problemas, desenhando um sorriso constante em
meu semblante, distribuindo otimismo ao meu redor, sempre que possível! E, nos
intervalos, escrevinhando uns poemas, crônicas e contos. Receita para uma
saudável longevidade, com a ajuda da Graça Divina!
CONFORMO-ME EM SER UM IDOSO, MAS JAMAIS QUERO ENVELHECER!
QUANDO CHEGAR-ME A DERRADEIRA HORA, QUE LEVE COMIGO UM JOVEM CORAÇÃO, INDA CHEIO
DE AMOR PRA DAR!