1 de out. de 2018

O Velho e o Idoso




O VELHO E O IDOSO
(Conto de Ary Franco)
Dois antigos amigos encontram-se, casualmente, anos depois de um longo afastamento por razões alheias às suas vontades, levados que foram por caminhos diferentes, em busca de um sucesso profissional e outras aspirações não menos plausíveis.
O IDOSO estava com 85 anos de idade e o VELHO um lustro mais novo, com 80 anos de sobrevivência, digamos assim!
O encontro ocorreu na fila do caixa de uma farmácia. O IDOSO tinha comprado um complexo vitamínico para sua complementação alimentar. O VELHO comprara uma série de remédios preventivos para satisfazer sua incurável hipocondria.
Sentaram-se no banco de uma praça próxima  e começaram a falar sobre amenidades  das saudosas reminiscências dos tempos de outrora.
O VELHO usava um chapéu de abas mais largas que as normais, para resguardar-se do sereno da noite e queixava-se da friagem que sentia e lamentava não estar usando um agasalho mais espesso. Não poderia demorar-se por muito tempo por causa  do orvalho...
O IDOSO deleitava-se com a suavidade da brisa que a noite lhe soprava e contemplava o céu estrelado que emoldurava uma linda lua cheia,  prateando o chafariz que jorrava contínuos e alegóricos esguichos d’água.
O VELHO descobriu uma pequena e acanhada nuvem acomodada naquele cantinho celestial e temia que uma tempestade estivesse próxima a se desencadear. Ele, inexplicavelmente, carregava um guarda-chuva.
O IDOSO comentou sobre as roseiras que enfeitavam e perfumavam o jardim da praça. Eram rubras, amarelas, brancas, róseas... um florido arco-íris pintado em aquarela pelas mãos de Deus.
O VELHO lamentou que os galhos eram cheios de espinhos  que arranhariam aquele que das roseiras se aproximasse. Preferia manter-se distante e não podia sentir qualquer olor por estar constantemente resfriado, por uma crônica rinite alérgica que o acometera anos atrás. Sempre levava consigo um preventivo par de lenços.
O IDOSO convidou o VELHO a dar umas voltas pelas cercanias para andar um pouco e manter a forma física em dia. O VELHO disse que não se sentia disposto e preferia manter-se sentado, alegando que se andar fizesse bem, todos os carteiros só morreriam depois dos cem anos. O IDOSO desistiu de explicar-lhe que os carteiros carregavam malotes pesados com correspondências e encomendas postais, subiam ladeiras sob sol ou chuva, usavam roupas inadequadas ao clima que fizesse, qualquer que fosse ele, quente ou frio. Isso não era saudável e em nada contribuía para suas longevidades.
O VELHO disse que passava a maior parte dos dias de sua aposentadoria, aboletado em uma cadeira de balanço assistindo televisão, beliscando variados tipos de petiscos, tomando cafezinhos e pitando seus cigarros. Pouco comia às refeições, talvez por isso sentia-se constantemente cansado.
O IDOSO pertencia a um clube social em que fazia hidroterapia, frequentava uma escola de danças todas as tardes, exceto às segundas e quartas-feiras quando tinha aulas de violão. Adorava a vida, ouvir boas músicas, encantava-se com o sorriso de uma criança, as carícias de uma mulher, a chilreada dos pássaros, o verde das matas, os animais, o sol, a chuva, a primavera, o verão, o outono, o inverno e todas as outras benesses e criações de Deus!
O VELHO não ligava muito pra “essas bobagens”, pois tudo estava lá por obra do acaso. Não tinha tempo de admirar estes “simples detalhes” que iam e vinham sem influenciar em nada no seu modo de viver e ver as coisas. Apertou-me a mão sem muito vigor e despediu-se dizendo que já era tarde e que tinha que retornar à sua casa, pois estava na hora de tomar seus remédios, antes de deitar-se.
Mostrei-lhe o bebedouro ali perto, caso quisesse tomar algum comprimido que comprara na farmácia e, assim, poderíamos permanecer mais tempo o nosso “papo”. Disse-me que já se acostumara a engolir os comprimidos a seco, pois nunca sentia sede e pouca água bebia.
Desejei-lhe felicidades e aconselhei-o que parasse de olhar tanto para o chão, pois lá no alto é que estavam as coisas boas para serem apreciadas, inclusive nosso Divino Deus para conduzir nossos passos e iluminar nosso caminho com sua Divina Luz.
Fez um muxoxo de descrença, tirou um pigarro da garganta e afastou-se meio curvado, alquebrado...
Pobre VELHO de 80 anos, jamais conseguirás  ser um IDOSO de 85 como eu. De bem com a vida, de bem com o próximo, sufocando  eventuais prantos, contornando ou arrostando problemas, desenhando um sorriso constante em meu semblante, distribuindo otimismo ao meu redor, sempre que possível! E, nos intervalos, escrevinhando uns poemas, crônicas e contos. Receita para uma saudável longevidade, com a ajuda da Graça Divina!
CONFORMO-ME EM SER UM IDOSO, MAS JAMAIS QUERO ENVELHECER! QUANDO CHEGAR-ME A DERRADEIRA HORA, QUE LEVE COMIGO UM JOVEM CORAÇÃO, INDA CHEIO DE AMOR PRA DAR!

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