19 de fev. de 2025

Peço perdão - Eugénio de Sá

 

 
 
 
 
 
( sextilhas )
 
Peço perdão
 
Eugénio de Sá
 
 
 
Peço perdão aos versos meus, exaustos
palavras que hoje brotam dos socalcos
de degrau em degrau, desiludidos.
Versos que outrora me surgiam breves
nas dobras das venturas que eram leves
que me foram pesando nos gemidos.
 
 
Peço perdão aqueles que me vão lendo
e que aos poucos se vão apercebendo
que esta alma que escreve está doente.
Os que comigo vão sentindo as dores
que lêm nos sofridos dissabores
entrelinhas ocultos, mas latentes. 
 
 
Peço perdão ao Deus que me criou
e, tal como eu, não sabe aonde vou
no desbocado arfar de mil andanças.
Vou - talvez desvairado - por caminhos
que me fazem tombar em desalinhos
perdido de destinos e paranças.
 
 
Peço perdão aos ventos do destino 
que me fadaram calhado pro atino
mas que eu traí, omisso da razão.
Retorna a mim, poesia redentora
invade-me de ti, que és sonhadora
e apazigua-me esta inquietação.
 
 
 
 
Sintra, Portugal






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