19 de mar. de 2015

Nossa, vocês por aqui! - Hamilton Brito


-E aí, Plínio, como vai você, mano?
-Rapaz, não gostei do começo da prosa. Tira o mano que isto é coisa de curintiano.
-Beleza pura...
-Po meu, sai dessa. Que diabo de beleza pura !
-Escuta aqui o cara, você mudou mesmo. Tá querendo dar uma de “ bunitão”, vai agora usar a linguagem que você nunca usou quando vivo?
Onde está o escritor irreverente, de textos cortantes, cheios de gírias na tentativa de dar mais vida aos personagens das camadas onde pontificavam os excluídos?
Ninguém tem mais a ousadia de encenar Barrela, texto que se baseia numa curra em uma cela de prisão...Meu, o escândalo foi de lascar. Hoje, mataria muita gente do coração e, creia, o mundo piorou bastante.
-Uai, não encenam porque não querem. Nem direitos autorais precisam pagar.
-Plínio, existe um moralismo esquisito rondando por aí. A censura da ditadura castrava menos. Hoje, os jornais não publicam um simples filho da puta – colocam fdp – alegando que os seus leitores não aceitam tal licenciosidade. Amigo Plínio Marcos, ou seja, você, o Nelson Rodrigues, a Adelaide Carraro nasceram no tempo certo. Hoje morreriam de fome,  no ostracismo.
-Ah! Será mesmo?
- Tô falando, hoje vocês não encontrariam espaço nem no Literatura Brasil, excelente folhetim do professor Pedro Cesar Alves.
-Que é isso? O Pedrão tá com frescura? Po, manjo aquele cara, fala pra ele parar com isso.
-Não é o Pedrão. É o moralismo hipócrita que existe hoje. Se ele coloca puta e não mulher de vida airosa, não distribui um exemplar.
-Amigo, imagine você e o velho Nelson, hoje em dia, com a Internet “ bombando” ?. É triste ver a grande rede nas mãos de uma leva de baratas literárias produzindo “ coisas “ que ninguém lê.
Na rede não há um editor julgando-se o dono da moral e dos bons costumes da sociedade, da humanidade, censurando conceitos cuja profundidade nunca captou. --Sim, eu sei, há editores e editores...
-Sei disso. Mas muita das vezes nem são eles mas, a linha editorial do jornal. Por sorte temos um bem liberal.
E pensar que você nem gostava de estudar, tendo terminado apenas o primário. Mesmo assim o seu nome está inscrito na história da literatura brasileira.
Plínio, você participou de concursos literários? Nunca ? Você está certo. Iriam dizer que os seus textos não são literários. Fez bem em não escrever para essa gente. Conhecem tudo de teoria...
Você sempre se norteou pela cultura popular...Gosto disso. Nossa, Navalha na Carne, com linguagem muito violenta, chocante.
Aliás, olha quem vem aí.
_Olá Nelson, como vai a saúde? Eu e o Plínio falávamos da maior liberdade e do menor policiamento dos moralistas. Diga, suas peças que foram, mesmo na sua época, tachadas de obscenas e imorais, como seriam julgadas hoje?
-Sabe, não quero nem saber. Se naquele tempo já mandei meio mundo pros diabos, hoje então...
-Meu caro, com tanto erotismo caracterizando as suas obras, você no mínimo, hoje, seria chamado de sem vergonha. No entanto sua obra é considerada realista.
-Adelaide Carraro, como você esta bonita!
_Mirtho, deixa mão de ser farsão. Nunca fui bonita. Fui gostosa, isso sim.
-Conhece o Plínio e o Nelson?
-Hum! Foram mais malditos do que eu. No entanto, não foram taxados de terem feito subliteratura e eu fui. Fui por ser mulher.
Subliteratura...sabe quantos Eu e o governador foram vendidos em três dias? 20.000 exemplares.
Para subliteratura está muito bom, né?
Olha, nós três, pelo que diziam, iríamos para o inferno. No entanto, moramos no céu, não falta uisque para o Nelson, o Plínio transmite os jogos entre anjos e eu fico só na plateia, comendo amendoim.
-Para qual escritor  vocês mandariam um abraço?
Depois de um minuto , o Nelson disse:
_ Para o Ógui Mauri , para a Ângela poesia, para a  Luli Coutinho...
Disse o Plínio:
-Ah! Para a Theca Angel,  para a ZzCouto, para a Cida Valadares , para Eliana Ellinger...
-Opa, quero mandar os meus abraços, disse a Adelaide:
Um para a Augusta Búrigo porque gosto da irreverência dela, boca “ mardita”,  outro para a Marilda e um para a...Vanda Gigo

-Po, e pra mim, não mandam nada?
_Mirtho, vai procurar o caminhão do qual você caiu.

Arte e Formatação:
 AugustaBS

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